Meus amores...

Enquanto criança, tudo era novidade. Só queria brincar, comer e cheirar tudo, mas quando fiquei mocinha pela primeira vez, foi um alvoroço. Meu portão vivia cheio de outros cães muito curiosos.

Eu não entendia direito o que estava acontecendo, mas achava tudo muito engraçado.

 

Depois, de tempos em tempos eu ficava assim e meus amigos vinham bem enfeitados. Cada um queria aparecer mais que o outro e acredito que eles estavam se achando verdadeiros gatões, digo, cachorrões.

Apareciam no meu portão: o Scooby, o Dique, o Leão e uma porção de outros amigos dos quais nem mesmo sei o nome. Para mim não fazia muita diferença, pois achava todos muito simpáticos. Quem não gostava eram os meus pais. Eles não deixavam ter certas intimidades com os outros cães.

Lembro ainda que nessas ocasiões ninguém me levava passear. Era a mais completa reclusão!

 

Certo dia, numa dessas vezes, não sei direito o que eles conversaram. Minha mãe e minha irmã prepararam minha lancheira com a comida e com minhas bolachas preferidas. Aí, me levaram para a casa da dona Manuela mãe do Dique. Falaram, falaram e me deixaram lá.

 

Imaginem eu, pela primeira vez, sozinha com um personagem masculino.....

 

O Dique não me dava sossego. Para onde eu ia, ele ia sempre atrás. Ele estava ficando cada vez mais ousado; estava enfiando o nariz onde não devia!

 

O tipo físico do Dique não era dos mais atraentes, ele era meio delicado. Estava sempre bem escovado e muito cheirosinho. Mas naqueles dias eu o achava tão romântico!

 

Eu estava feliz, mas uma coisa me incomodava. Da casa do Dique eu conseguia ver minha casa e ficava muito angustiada quando via meus pais saindo de carro. Eu fazia o maior escândalo. Tanto latí que resolveram me trazer de volta e, desta vez, o Dique veio junto.

 

Eu estava me divertindo bastante. Só briguei com ele quando minha irmã, que é muito romântica, pôs a comida para nós dois no mesmo prato. Aí o pau quebrou... Tiveram que providenciar dois pratos: um bem longe do outro.

 

No final daquele dia, minha família ficou toda apavorada: o Dique havia sumido!

 

Procuraram daquí, procuraram dalí e descobriram que ele havia pulado o muro e voltado pra casa dele.

 

Acabou por isso mesmo. Não sei se foi pela falta de prática dele ou se foi pela minha ansiedade, não aconteceu nada, não chegamos às vias de fato. Acho que como os humanos costumam dizer, "só ficamos".

 

Pra falar a verdade, essa foi a única vez que chequei mais perto do perigo.

 

Houve vezes que o Scooby invadiu meu terreno, mas era tudo correria. Ele era muito baixinho. Com ele só viví um amor daquele que não se concretiza; um amor Platônico.